Igualmente atraentes para homens e mulheres, os attars têm uma qualidade andrógina. Eles exalam notas florais, amadeiradas, almiscaradas, esfumaçadas, verdes ou de ervas intensas. Lançados de acordo com a estação, os attars podem ser quentes (cravo, cardamomo, açafrão, oud) e refrescantes (jasmim, pândano, vetiver, calêndula).
Kannauj os produz, bem como o emocionante attar mitti, que recorda o cheiro da terra após uma chuva e é feito com porções de argila crua do rio Ganges. Shamama, outra invenção própria de Kannauj, é uma mistura destilada de 40 ou mais flores, ervas e resinas amadeiradas, cuja fabricação leva dias e o envelhecimento meses. A fragrância consegue harmonizar o aroma doce, de especiarias, defumado e a umidade, capaz de conduzir quem o utiliza para um reino de outro mundo. Casas de perfumes renomadas na Europa usam o attar de Kannauj – seja rosa, vetiver ou jasmim – como um acorde, uma nota atraente na composição da perfumaria moderna.
A arte de fabricar perfumes
Kannauj produz attar (também conhecido como ittar) há mais de 400 anos – mais de dois séculos antes de Grasse, na região de Provença, na França emergir como uma potência no setor de perfumaria. Conhecido localmente em idioma hindi como degh-bhapka, o método artesanal utiliza alambiques de cobre aquecidos com lenha e esterco de vaca.
Kannauj fica a quatro horas de carro de Agra e a apenas duas horas da histórica Lucknow, antigo estado principesco governado pelos nababos de Oude. Como muitas cidades indianas menores, Kannauj permanece entre o passado e o presente. É um local onde o tempo não passa, simplesmente se acumula.
Muralhas de arenito em ruínas e minaretes com cúpulas e arcos arredondadas lembram a grandiosidade antiga da cidade como sede do Império Harshavardhana no século 6. Na avenida principal, motocicletas e algumas Mercedes reluzentes passam por vendedores de frutas empurrando carrinhos de madeira cheios de goiabas e bananas que já passaram do ponto.
Entre as ruas estreitas de Bara Bazaar, o mercado principal, Kannauj remete totalmente à época medieval. Nesse labirinto, lojas antigas estão repletas de garrafas de vidro delicadamente lapidadas contendo attar e ruh, ou óleo essencial, cada um com uma fragrância melhor que a outra. Pessoas sentam-se de pernas cruzadas em tapetes acolchoados, cheirando frascos e passando as essências atrás das orelhas com longos cotonetes perfumados. O responsável por esse antigo comércio é o attar sazh, ou perfumista, que encanta e seduz com a aura de um alquimista imperial.
“Os melhores perfumistas do mundo passaram por essas ruas estreitas, abrindo caminho através da lama e esterco de vaca para colocar as mãos no attar de Kannauj. Realmente não há nada igual”, comenta Pranjal Kapoor, sócio da quinta geração da M.L. Ramnarain Perfumers, um dos mais antigos dos cerca de 350 destiladores que ainda operam na cidade.
Tegh Singh chega e descarrega seus sacos de flores no armazém de Kapoor, um pátio de pedra ao ar livre que serve como destilaria. Ram Singh, mestre artesão de attar da destilaria de Kapoor, coloca as pétalas em um alambique de cobre bulboso e o enche com água doce. Antes de fechar a tampa, Ram Singh espalha uma pasta de argila e algodão nas bordas, que endurece e cria uma vedação resistente.
Quando o líquido das flores começa a ferver, o vapor flui do alambique, por meio de uma vara de bambu, para um recipiente de cobre contendo óleo de sândalo, que absorve prontamente o vapor repleto do aroma de rosas.