O formato do planeta
Apesar de todos os seus vertiginosos picos e abismos profundos, a superfície da Terra é, na realidade, menos irregular do que se imagina. A Terra seria mais lisa do que uma bola de bilhar branca se fosse reduzida a esse tamanho. No entanto, evidentemente, não é lisa, e também não é uma esfera perfeita: é discretamente maior ao longo da linha do Equador, o que significa que, se fosse medida a maior distância do centro da Terra até o ponto mais distante de sua superfície, a montanha “mais alta” seria Chimborazo, no Equador (se medido a partir do nível do mar, seu cume possui uma altitude “insignificante” de 6,31 mil metros, mas, se medido a partir do núcleo da Terra, tem extensão superior a 6,38 milhões de metros, cerca de 2,1 mil metros a mais do que o Everest).
Para medir as montanhas do mundo e comparar suas altitudes, é preciso uma linha de referência que sirva como ponto de partida: o nível do mar. Contudo, em termos técnicos, não existe um nível do mar único: os oceanos da Terra são constantemente atraídos e moldados pela gravidade do planeta.
É aí que entram em cena os geodesistas. São geógrafos especializados em responder a uma mesma pergunta: qual é o formato da Terra? Pode parecer um trabalho extremamente esotérico, mas, na próxima vez que usar navegação para encontrar a cafeteria ou o posto de gasolina mais próximo ou encontrar seu caminho após se perder, agradeça aos geodesistas porque é o trabalho deles que fornece a base para o GPS.
Eles utilizam dois tipos de modelos para definir o formato do planeta — conhecidos como elipsoides e geoides. Os modelos elipsoides imaginam a Terra como uma oval lisa e curva, discretamente alongada ao longo de seu eixo equatorial, como um ovo deitado de lado. Geógrafos definiram matematicamente várias versões desse formato; a mais comum, conhecida como sistema de referência de coordenadas WGS84, é a base dos sistemas de GPS mais modernos e fornece a estrutura tridimensional de referência para coordenadas de latitude e longitude.
Os modelos geoides, por outro lado, tentam explicar o efeito da gravidade da Terra calculando onde estaria o nível do mar se toda a superfície do planeta estivesse coberta de água, o que cria uma média virtual do nível do mar em todo o planeta. Como a densidade da Terra não é uniforme, seu campo gravitacional exerce uma força desigual ao longo da superfície do planeta. As águas oceânicas são atraídas ou repelidas sutilmente pelo centro do planeta em função da dinâmica local. Em vez de um ovo de lado, o modelo geoide sugere que a Terra seja mais semelhante a uma batata com protuberâncias.
“É chamada de superfície equipotencial do campo da gravidade”, explica Alex Tait, geógrafo da National Geographic Society. “É preciso saber onde ficaria o nível do mar embaixo do Monte Everest — se pudesse existir mar embaixo do Monte Everest.”
O primeiro levantamento a medir a montanha, então identificada nos mapas britânicos como “Pico XV”, foi realizado na década de 1850 por uma equipe britânica contratada por Sir George Everest, ex-topógrafo geral da Índia. Foi calculado o nível do mar criando uma rede de estações de linha de visada a partir da Baía de Bengala, a faixa de oceano mais próxima, em zigue-zague rumo ao norte, de cume em cume, até que o Everest ficasse visível e pudesse ser medido por meio de cálculos trigonométricos. Para considerar a curvatura da Terra, os topógrafos empregaram modelos esferoides — precursores mais arredondados e aproximados dos modelos elipsoides de maior complexidade matemática. Chegaram a uma altitude aproximada de 8.840 metros. Cerca de um século depois, a Agência de Levantamento Topográfico da Índia, utilizando um método semelhante, definiu a altitude do Everest como 8.848 metros, incluindo a calota de neve.