A guayusa é uma planta parente da erva-mate encontrada na parte amazônica do Equador. Com mais cafeína do que o próprio café, ela que vem ganhando espaço no mercado internacional.
O cultivo é antigo, mas a produção comercial é bem mais recente e tem a ver com o aumento do interesse pela planta no mercado internacional, especialmente dos Estados Unidos. Porém, se comparada com outros produtos da região, como o açaí e o guaraná, seu potencial ainda é pouco explorado.
A Fundación Los Alidados, uma associação equatoriana que reúne 140 agricultores, tem como objetivo mostrar que a guayusa pode ser um exemplo de produto que rende dinheiro sem devastar a floresta. Eles possuem uma linha de produção montada com o apoio de uma fundação com sede nos EUA.
Raine Donohue, gerente da fundação, acompanha de perto cada etapa de processamento da erva. Ela explica que existe um cuidado sanitário com o produto, que segue um protocolo de certificação de qualidade.
“Estamos focando no orgânico para assegurar que não coloquem pesticidas, porque isso, ao final, conserva a biodiversidade. Esse é o objetivo da fundação”, diz Raine.
“É para assegurar que os agricultores tenham melhores condições para suas famílias e também estejam protegendo a natureza”, completa.
Para descobrir o que existe de especial nesta erva que conquistou o paladar de americanos, o
Globo Rural visitou o laboratório da Universidad San Franciso, em Quito, que é especializada no estudo da guayusa.
A bióloga Maria de Lourdes Torres diz que a planta tem mais cafeína do que o café e muita teobromina, substância também presente no cacau. Esses dois componentes dão energia para quem busca uma vida saudável.
“É um excelente antioxidante, anti-inflamatório, antiviral, ajuda no processamento de açúcares, e isso faz com que a folha seja tão interessante de se cultivar”, explica.
Entre os americanos, a erva já é encontrada em supermercados, na forma de chá ou como ingrediente de bebidas energéticas.
Segundo Fundación Los Alidados, celebridades como Leonardo DiCaprio e Channing Tatum investiram em estudos sobre a guayusa.
A nova era da guayusa como produto não elimina antigas tradições dos índios do equatorianos. Uma delas ocorre antes mesmo do amanhecer: a guayusada.
As pessoas recebem uma porção do chá da erva e começam a conversar entre si. Os nativos dizem que é hora de planejar o dia que vai nascer, contar histórias, revelar sonhos, interpretar sonhos.
É a hora dos mais velhos darem conselhos para os mais novos. Sem esquecer do valor estimulante que o chá tem para enfrentar o dia.
Antes de beber, os homens fazem um bochecho e soltam o líquido no ar, num borrifo. Os índios acreditam que a erva é um presente de Deus e que eles jogam para o alto para que essa dádiva caia sobre eles. Além disso, eles garantem que líquido serve como proteção contra cobras.
E a guayusa é só uma das fontes de conexão entre o material e o espiritual.
A etnia kíchwas tem mais de 400 grupos, baseados em conjuntos de famílias. Para eles, animais e plantas são sagrados, tão importantes quanto os seres humanos porque ajudam a compor a divindade suprema: a floresta, a mãe terra. “Pacha mama”, na língua deles.
Para Wain Collen, diretor da fundação que apoia os produtores de guayusa, este é só o início de um trabalho. Mais do que defender a guayusa, o que se busca preservar é a própria Amazônia.
“Nós queremos gerar oportunidades que sejam amigáveis com o meio ambiente, porque, quando eles têm as necessidades econômicas satisfeitas, há menos pressão para desmatar. Queremos melhorar os meios de vida para que as matas continuem”, explica Collen.