
Tarde em Tambaú Restos de nuvens São bailados de andorinhas
Não me comoveu A morte daquela noite. O galo cantou
Relógio de meu pai. Na parede, inerte, Fala-me de todas as horas.
Praia do Jacaré: O sol cansado, deitou-se E adormeceu nos braços-de-mar.
Vestido molhado Colado nas coxas: Rio perene
Quem tem boca Vá à fome Do grito que o consome.
Estalactites. Lágrimas da terra quando chora por dentro.
Pássaros se recolhem. Bois sentados mastigam a tarde morta.
A Amazônia freme esvaindo em líquido seu sangue branco.
Na colheita de laranjas mulheres lentamente colhem a tarde bem madura.
Copa do Mundo: o coração perde a forma quando em bola se transforma.
Chuva passando tarde escurecendo… É tempo de tanajura!
Frondoso tamarindo. Em seu lugar vazio verdes lembranças.
No céu, quantos trovões!! Gozos espalhafatosos das nuvens quando cruzam.
Noite de primavera. Um fruto caiu no lago e amassou a lua.
Fogão de lenha carne seca, pão assado e a brancura de Júlia.
Baleias dançam de saias franjas de espuma, alfaias e sem nenhum balear.
Sob o sol poente engolindo as suas sombras: camponeses retornam.
Cai a tarde em Tambaú. Restos de nuvens são bailados de andorinhas.
Pintassilgo no terraço cantando ao amanhecer. Meu relógio de parede.
Um gato dorme sobre a balança: sono pesado.
A moça nubente resolvida, despe-se: mais um sim
À tarde, no porto Eles se amavam E ficavam a ver navios.
Um músico sentado na praça Soprava a noite: O sono tocou-lhe sem dó.
Saudade dentro amolada Corta qual bisturi: Hemorragia interna.
A solidão dessa dor Ainda fala o peito: Silêncio de bronze.
Fonte:
Ambiente de Leitura Carlos Romero - Saulo Mendonça - Escritor, poeta e haikaista