Pontas de cigarro, feitas de acetato de celulose, são há muito tempo consideradas uma anomalia por cientistas de grupos ambientais — um problema diferente que não se refere às tendências de maior consumo relacionado ao lixo plástico. Em limpezas futuras, dependendo do número de voluntários e praias que serão limpas, a sempre presente ponta de cigarro pode voltar ao primeiro lugar do pódio, explica Nicholas Mallos, que dirige o programa Trash-Free Seas (Mares Livres de Lixo, em tradução livre) do Ocean Conservancy.
“O fato de as embalagens de alimento terem chegado ao primeiro lugar destaca a produção não sustentável de embalagens descartáveis de uso único para comidas e bebidas”, diz. E para complicar ainda mais, muitas das embalagens de alimentos não chegam a ser recicladas pelos consumidores ou não podem ser recicladas de forma alguma — uma condição que, segundo Mallos, realça as “inadequações evidentes” no gerenciamento de resíduos plásticos na maioria das comunidades do mundo todo.
Em 2017, apenas 13% dos recipientes e das embalagens plásticas foram reciclados nos Estados Unidos, de acordo com a Agência de Proteção Ambiental — a menor taxa de reciclagem entre recipientes e embalagens de qualquer tipo de material.
O Ocean Conservancy cataloga cada item coletado nas limpezas de praias desde 1986, quando realizou a limpeza pela primeira vez, e compilou o que considera ser o maior banco de dados do mundo de detritos marinhos classificados por tipo, com mais de 400 milhões de itens. A linha do tempo geralmente mostra as tendências no comportamento dos consumidores e também a disponibilização de produtos diversos. Por exemplo, latas de bebidas e sacos de papel saíram da lista dos dez itens mais comuns após a limpeza de 2009, cerca de uma década depois de a garrafa de água ter sido amplamente distribuída no mundo todo e o uso de sacolas plásticas para compras em mercados ter ultrapassado os sacos de papel. Garrafas de vidro desapareceram em 2017 da lista dos dez principais itens. Esse foi o ano em que o plástico garantiu seu domínio pela primeira vez entre os dez itens mais comuns como o material mais coletado.
“O conjunto de dados do Ocean Conservancy é um importante retrato da linha de tempo da poluição por plástico para todas as pessoas do mundo que se preocupam com essa questão”, diz Jenna Jambeck, professora de engenharia da Universidade da Geórgia e Associada da National Geographic. “Venho mencionando esses dados desde que comecei a pesquisar sobre o assunto, há 19 anos”.
A coleta da limpeza de 2019, quantificada por estatísticos do grupo em termos adequados aos animais que vivem nos oceanos, incluiu canudos suficientes para que 322 polvos bebessem oito smoothies por dia durante um ano e talheres plásticos suficientes para servir uma refeição completa, de três pratos, a 66 mil tubarões. Os voluntários também coletaram linha de pesca suficiente para uma ave marinha pescar a partir de 88 quilômetros acima da superfície do mar.
Como de costume, a limpeza que percorreu cerca de 39 mil quilômetros de praias, da Ásia Pacífico e Atlântico Norte até a América do Sul, também produziu uma coleção de itens peculiares. Um anão de jardim foi encontrado em uma praia do Japão, provando sua aparente onipresença. Entre os outros achados: uma churrasqueira em Hong Kong, uma banheira na Jamaica, um ferro de passar na Venezuela, um sofá no oeste do México, uma bolsa de golfe na Noruega e uma tocha Tiki na Califórnia.
A limpeza é realizada no terceiro sábado de setembro, neste ano inclusive. Mas em função da pandemia, os voluntários são incentivados a trabalhar sozinhos ou em pequenos grupos — ou simplesmente não participar esse ano e focar na redução de resíduos em suas próprias residências.