As vantagens de ser pequeno
Os precursores dos dinossauros eram criaturas minúsculas e difíceis de localizar devido ao seu tamanho diminuto. Ossos pequenos e frágeis têm menor probabilidade de fazer parte de registros fósseis do que esqueletos grandes e resistentes, e os paleontólogos geralmente se concentram em descobrir animais grandes e impressionantes. Mas descobertas recentes estão ajudando a completar a história. Os primeiros dinossauros não eram criaturas vorazes que superaram diretamente seus parentes arcossauros, como concebido pelos especialistas. Em vez de conquistar seu espaço nesse mundo de maneira imediata, obtiveram êxito como oportunistas.
Um Kongonaphon vivo possuía altura até o quadril de pouco mais de 10 centímetros, do tamanho de um camundongo. Mas esse pequenino réptil de Madagascar é primo de alguns dos maiores animais que já habitaram este planeta, pertencentes ao subgrupo dos arcossauros, antepassados dos dinossauros e seus parentes voadores, os pterossauros. Nosso conhecimento sobre o Kongonaphon é oriundo de apenas alguns ossos. Ainda assim, se considerada sua família e as informações obtidas pelos cientistas sobre animais de pequeno porte, o réptil miúdo ganha enorme importância para a ascensão dos dinossauros.
Décadas de descobertas indicam que tanto os pterossauros quanto os dinossauros foram animais ativos e de sangue quente. Alguns membros de ambos os grupos ainda possuíam penugem e pelos. Apesar da falta de evidências diretas de que o Kongonaphon apresentasse essas características, “animais semelhantes ao Kongonaphon são ilustrados com protopenas, uma hipótese razoável baseada na presença de penas em seus primos”, explica Pritchard.
Se confirmada a hipótese, o Kongonaphon provavelmente transmitiu alguns atributos úteis aos seus descendentes dinossauros e pterossauros. Animais pequenos têm mais dificuldade em regular a temperatura corporal e os corpos felpudos oferecem maior isolamento para reduzir oscilações térmicas entre o calor e o frio. O tamanho diminuto também está muitas vezes associado a um metabolismo acelerado, à necessidade de encontrar uma grande quantidade de alimentos calóricos e à capacidade de correr, saltar, apanhar insetos crocantes e escapar de predadores.
Um animal com cerca de 18 centímetros denominado Escleromochlus é outra criatura curiosa e pequenina que parece ter contribuído para essa hipótese. Paleontólogos debateram se o animal pulava como um rato-canguru ou se saltava mais como um sapo, mas, de qualquer forma, esse pequeno animal parece ter sido importante na origem dos pterossauros, que apresentavam uma penugem assim como seus pequenos ancestrais.
Mais descobertas fósseis serão necessárias para confirmar essas hipóteses, mas, com o decorrer do Triássico e a continuidade da evolução dos dinossauros a uma gama maior de tamanhos e formatos, é provável que os dinossauros tenham mantido os traços ancestrais de seus parentes pequenos, como corpos felpudos e constituição física ágil. Essa herança pode ter feito bastante diferença quando a extinção em massa voltou a ocorrer.
Dinossauros chegam ao topo
O fim do Triássico, há 201 milhões de anos, foi marcado por outro aumento na intensidade de atividades vulcânicas. Os efeitos não foram tão devastadores quanto os ocorridos durante a extinção do fim do Permiano, mas foram severos o suficiente a ponto de criar um clima global instável.
A história dessa extinção ainda está sendo desvendada, mas é possível que os primos dos crocodilos e outros répteis do Triássico não tenham suportado os picos de temperatura global e o posterior resfriamento. Dinossauros e pterossauros, no entanto, conseguiram regular sua temperatura corporal graças a sua penugem na forma de protopenas. Nessa época, tanto dinossauros quanto pterossauros haviam se diversificado em diversos grupos adaptáveis. Dinossauros ligeiros, pequenos e carnívoros viviam ao lado de enormes herbívoros de pescoço longo e os pterossauros foram os primeiros vertebrados capazes de voar.
Na metade do período Jurássico, cerca de 175 milhões de anos atrás, os dinossauros já dominavam o mundo. Grandes predadores com dentes serrilhados e recurvados como o Megalossauro caminhavam pelas florestas. Herbívoros baixos e encouraçados, como o Huayangosaurus arrancavam folhas de samambaias. E imponentes vegetarianos de pescoço longo como o Spinophorosaurus mais tarde evoluíram para alguns dos maiores animais terrestres que já existiram.
Após passar milhões de anos às margens, os dinossauros finalmente alcançaram seu auge. Durante seu reinado, sem perceber, desempenharam um papel na ascensão de seus sucessores: os mamíferos.
Uma linhagem sobrevivente de protomamíferos gerou uma nova genealogia de pequenas criaturas, mais ativas à noite e não muito maiores do que um camundongo. Tal como os ancestrais diretos dos dinossauros, essas criaturas possuíam uma pelagem felpuda, metabolismos rápidos e uma predileção por insetos. Com o passar dos ciclos da vida, os primeiros mamíferos viveram às margens do mundo dos dinossauros, até que outra extinção em massa, provocada pela queda do asteroide de Chicxulub, que exterminou os “terríveis lagartos”, mudou a sorte em favor dessas novas criaturas.