Na Caatinga, uma espécie de planta enfermeira pode ter um papel chave na conservação. Estudo publicado na revista Geotemas apontou que a faveleira se destaca no combate ao processo de desertificação e aos impactos do aquecimento global.
O bioma apresenta características naturais que o tornam vulnerável à desertificação. Ele combina um regime de chuvas concentrado com um pequena capacidade de proteção das plantas. Com isso, os solos ficam expostos à degradação.
Com uma rica biodiversidade, a Caatinga é o único bioma que ocorre exclusivamente em território brasileiro. Ao mesmo tempo, consiste no menos protegido. Uma situação preocupante no contexto do aquecimento global.
Espécie enfermeira
A saúde de um ecossistema está ligado à interação entre as espécies vegetais. Além de competição entre uma espécie e outra, existe também interações positivas, nas quais plantas contribuem umas com as outras.
Segundo o estudo, em ambientes semi-áridos como a Caatinga observa-se a ocorrência de espécies chamadas de enfermeira. Tais espécies interagem de modo positivo com as demais, contribuindo para o desenvolvimento de outras plantas.
Na Caatinga, um das árvores de maior relevância para a população é a a faveleira – de nome científico ‘Cnidoscolus quercifolius’. Endêmica do bioma, ela pode viver cerca de um século e alcançar 8 metros de altura. Além de resistente à estiagem, dela se pode obter diversos produtos, como amido e óleo.
Faveleira, bom pra mata e pra gente
O estudo investigou se a faveleira cumpriria o papel de enfermeira da Caatinga. Em uma propriedade rural no município de São José do Seridó, interior do Rio Grande do Norte, comparou-se a diversidade e a quantidade de elementos florísticos entre parcelas de vegetação com a presença e sem a presença da faveleira.
Parcela com a presença da faveleira – indicada pela letra (a) – tiveram uma presença maior de espécies vegetais do que parcelas sem a presença da espécie – (b)
A vegetação apresentava um grande valor para a vida e cultura das pessoas. Todas as espécies registradas na área de estudo eram utilizadas na alimentação animal, e mais da metade para uso da madeira e produção de remédios.
Identificou-se a presença de 8 espécies, ou 42% do total observado, apenas em parcelas com a presença da faveleira. As parcelas sem a espécie mostraram menor quantidade de plantas e maior taxa de mortalidade.
Os autores do estudo concluíram que a faveleira possui um papel central na conservação da Caatinga. Tanto para as demais espécies de planta quanto para as pessoas e as comunidades locais.
Mais informações: Medeiros, J.A. and de Oliveira, V.P.V., 2020. A IMPORTÂNCIA DA FAVELEIRA NA CONSERVAÇÃO DA CAATINGA: UMA ANÁLISE APÓS O CICLO DE SECAS 2012-2018 EM ÁREA EM PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO. Revista Geotemas, 10(2), pp.06-24.
Imagem: figura 2 do estudo
Fonte:
Ciência e Clima