Quase um ano depois do nascimento histórico de cinco raias-borboleta no Aquário Marinho do Rio de Janeiro (AquaRio), biólogos e veterinários estão se preparando para receber outra leva de pequeninas raias na família.
Em apenas seis meses — período gestacional da Gymnura altavela, nativa das águas rasas da costa do Atlântico, inclusive na fronteira com o sudeste do Brasil — os filhotes, cujo número ainda é desconhecido, se juntarão a três machos e duas fêmeas, que são os primeiros nascidos em cativeiro no mundo, em agosto do ano passado, um sinal positivo para uma espécie que pode entrar em extinção futuramente.
Apesar da ilegalidade da captura e venda dessas espécies no Brasil, a pesca é uma das principais ameaças enfrentadas pelas raias-borboleta, que podem chegar a quase dois metros de largura. Elas são procuradas por pescadores artesanais, que as comercializam, e também ficam presas acidentalmente em redes de arrasto. A outra ameaça que inibe sua população é a poluição. Esses dois motivos levaram a espécie a ser classificada na Lista Vermelha da IUCN como vulnerável, com sua população em declínio. No Brasil, elas são consideradas gravemente ameaçadas de extinção.
Lar doce lar
As primeiras raias nascidas em cativeiro foram vistas pelo público pela primeira vez quando a TV Globo recebeu autorização para filmá-las no mês passado. Marcelo Szpilman, biólogo marinho e Diretor-Presidente do AquaRio conta que elas estão se desenvolvendo e que sua estreia ao público acontecerá em breve no Tanque Oceânico, onde desempenharão um importante papel de conscientização dos visitantes.
“Você não preserva aquilo que não conhece”, ele diz. “O aquário tem o papel de mostrar as espécies ameaçadas, ajudando as pessoas a entenderem a importância de sua conservação. É preciso conhecer para conservar”.
Os nascimentos sem precedentes do AquaRio em agosto do ano passado, a gestação e os cuidados após o nascimento de cinco filhotes fizeram parte de um delicado processo planejado pela equipe do aquário.
Devido às raias-borboletas serem particularmente sensíveis ao ambiente em que vivem, os pesquisadores precisaram criar condições ideais para que elas se sentissem confortáveis e pudessem viver naturalmente, como se estivessem no oceano.
“Queríamos nos certificar de que as arraias teriam condições para se reproduzir por conta própria”, diz Szpilman. O sucesso se deve ao tamanho do Tanque Oceânico, que comporta 3,5 milhões de litros de água, à qualidade excepcional da água e ao ecossistema estável criado por diversas espécies de tubarão, raias e peixes que chamam o tanque de lar.
“A reprodução em cativeiro, quando bem-sucedida, é de extrema importância para a conservação da espécie”, explica Patricia Charve do grupo especializado em tubarões da IUCN e bióloga especializada em tubarões e raias. “É importante porque indica que estão sendo bem cuidadas e que querem deixar seus descendentes”.
