Uma peça chave de evidência geoquímica consolidou o caso. A parte superior da toca é muito rica em ferro, o que sugere que o construtor dessas tocas jogava muco nas paredes superiores para manter o formato da estrutura. Bactérias depois se alimentaram desse muco, produzindo sulfeto de ferro. Essas fortificações de muco são as mesmas dos vermes anelídeos predadores de hoje, e o fato de que a areia antiga encontrada no alto da toca era revolvida regularmente indicava que era ela usada por um predador de emboscada. Os vermes Eunice aphroditois encaixavam perfeitamente no vestígio fóssil.
“Tocas tão grandes com essas disjunções em formato de pena são perfeitas para esses vermes”, diz o paleontólogo Jakob Vinther, da Universidade de Bristol, que não estava envolvido no novo estudo. “O tamanho das tocas e a maneira como a areia é alterada pelo comportamento dos invertebrados também batem”, diz ele.
Vermes anelídeos predadores ao longo da história
Normalmente, vestígios fósseis são descritos e nomeados sem que a criatura específica que os criou seja identificada, diz Murray Gingras, paleontólogo da Universidade de Alberta. Isso acontece porque vestígios fósseis e restos fósseis raramente são encontrados juntos. O novo artigo – que batizou os fósseis das tocas de Pennichnus formosae – junta evidências para interpretar a existência de um verme anelídeo predador, diz ele, mas restos fósseis ajudariam a confirmar o que os vestígios indicam.
“Como o verme é quase todo composto por tecidos moles”, diz Löwemark, “as chances de preservação são muito pequenas”. Mesmo assim, a característica mandíbula multifacetada dos Eunice aphroditois é composta de proteínas endurecidas e podem conter zinco, então têm mais chances de aparecer no registro fóssil. “Esses tipos de mandíbula, creio eu, datam do período Ordoviceano”, diz Vinther, referindo-se a um tempo de mais 443 milhões de anos atrás.
Há fósseis ainda mais antigos atribuídos a esses vermes. Rochas com cerca de 400 milhões de anos em Ontario, no Canadá, contém sinais de vermes se comportando de maneira semelhante aos Eunice aphroditois de hoje. No entanto, é meio estranho que outros fósseis como esse ainda não foram encontrados. Baseado em quão diferentes e grandes essas tocas podem ser, esses vestígios deveriam ser relativamente comuns em rochas dos últimos 20 milhões de anos, diz Gingras.
Talvez cientistas ainda estão aprendendo a identificá-las e, com um pouco de sorte, paleontólogos poderão, em breve, buscar esses vermes predadores nas mais antigas das tocas.