O sapo Romeo, que estava há dez anos solitário em um aquário da Bolívia, teria encontrado a sua Julieta? Biólogos do Museu de História Natural Alcide d’Orbigny, localizada na cidade boliviana de Potosí, localizaram uma fêmea da espécieTelmatobius yuracare em uma cachoeira. Após constatarem que ela não tinha o fungo Batrachochytrium dendrobatidis, que tem ameaçado populações de anfíbios ao redor do mundo, ela foi levada ao aquário na esperança de procriar com Romeo: eles são uns dos últimos remanescentes de sua espécie.

Como Julieta estava saudável, o primeiro encontro entre os dois anfíbios aconteceu. Romeo começou a cantar para a fêmea, mas quando cantoria de acasalamento se interrompeu, os pesquisadores pensaram que talvez o sapo fosse velho demais para a reprodução.
Após algumas análises, entretanto, os cientistas constataram que o sapo apenas ainda não sabe como se alinhar com a fêmea até alcançar o amplexo, nome dado à fase em que o macho “se acopla” à fêmea e fertiliza os ovos. Não é que Romeo seja especificamente lento: o processo naturalmente pode levar semanas e até mesmo meses, podendo o macho até perder peso devido à falta de alimentação causada pelo contato constante com a fêmea.
“Romeo tem sido muito doce com a Julieta, sempre a seguindo pelo aquário e sacrificando suas refeições de minhoca por ela. Depois que ficou tanto tempo sozinho, é incrível vê-lo com um par finalmente”, descreveu em comunicado Teresa Camacho Badani, especialista do museu.
Apesar do clima do encontro, os pesquisadores estão ainda tentando entender como funcionam os rituais de acasalamento espécie. “Não sabemos muito sobre o comportamento reprodutivo da espécie, então não temos certeza de quanto tempo o amplexo durará, quanto demora para que os girinos surjam ou quantos ovos a Julieta pode botar”, contou Chris Jordan, coordenador da Global Wildlife Conservation da América Central e dos Andes Tropicais.

Já que o romance envolve tantos mistérios, os sapos estão em fase de observação, revelando comportamentos desconhecidos. Romeo tem balançado as patas para impressionar a companheira, mas não se sabe se o casal poderá botar ovos em plantas ou em rochas. “Nós precisamos dar muitas opções para que possamos estudar como acontece e melhorar o processo para melhor replicar condições naturais”, explicou Jordan.
Caso a natureza não contribua para Romeo e Julieta, o time da Global Wildlife Conservation usará técnicas de reprodução assistida e coletarão o esperma de Romeo para evitar a extinção de sua espécie.
Quem quiser acompanhar o progresso do romance, pode assistir os sapos em transmissão ao vivo, toda quarta-feira, às 12h00, no horário de Brasília, no Facebook da instituição.
Fonte:
Revista Galileu