O engenheiro químico Degmar Peixoto Diniz, gerente industrial da Elizabeth Cimentos, com 30 anos de experiência na indústria cimenteira, atuando na gestão e dimensionamento de fábricas, com atuação dos maiores grupos cimenteiros do país, foi um dos palestrantes do Fórum 15 Anos do Espaço Ecológico.
Ele falou sobre a experiência da Elizabeth Cimentos que procura produzir sem agredir o meio ambiente. Para iniciar, Degmar disse que seu intento era mostrar qual a participação e o peso do mundo cimenteiro na questão do aquecimento global e dar uma ideia da dimensão que é a questão do cimento no mundo e seus desafios.
Depois, o engenheiro químico alertou que é preciso salvar o planeta e que sem sustentabilidade não haverá futuro. “O aquecimento global foi impulsionado pelo comportamento humano, em sua forma de viver, numa busca frenética e constante pelo conforto e, com isso, a riqueza global passou a ser baseada no uso intensivo dos recursos naturais, que incluem combustíveis, minerais e minérios, mas também alimentos, solo, água, biodiversidade e ecossistemas”, comentou.
Na opinião de Degmar, esses recursos embasam o funcionamento da economia global, assim como nossa qualidade de vida. E a industrialização e o nosso modo de vida mudaram a atmosfera do Planeta. A partir da Revolução Industrial nos tornamos grandes usuários de combustíveis fósseis, sobretudo carvão, petróleo e gás natural. Depois vieram a energia nuclear e algumas energias renováveis. Mas, o que aconteceu foi que as mudanças de hábito que tivemos, ao longo dos anos, criou todas as condições para o aumento das emissões. Essa alteração ameaça o planeta e pode tornar a vida praticamente insustentável. Alguma coisa precisa ser feita para evitar a instalação de um caos ambiental.
“Existem vários estudos que mostram que nós seres humanos, na década de 50, usavam em torno de 10% dos recursos naturais do planeta. Em 2010 já usávamos algo próximo a 50% desses recursos. E se nós não mudarmos a nossa bandeira reproduzir, a nossa maneira de consumir, nós vamos chegar, em 2050, a usar mais de 100% dos recursos, o que é impossível”, afirmou.
Degmar falou acerca da influência humana sobre o clima, destacando os danos por desastres naturais no mundo, entre 1980 e 2014. Ele dividiu esses desastres em eventos geofísicos, como terremoto tsunami e atividade vulcânica; eventos meteorológicos, como tempestade tropical, tempestade extratropical, tempestade convectiva e tempestade local; eventos hidrológicos, como inundações e movimentos de massa; eventos climatológicos, como temperaturas extremas, seca e incêndios tropicais.
Ele ressaltou como metas globais do Acordo Mundial do Clima (COP-21) conter a elevação da temperatura média da terra no máximo em 1,5° C até o fim do século; eliminar ou reduzir drasticamente o uso dos combustíveis fósseis até 2050; na segunda metade do século 21, todas as Nações deverão ter estabelecido o equilíbrio entre produção e eliminação/captura do CO2; os acordos e compromissos de curto prazo, até 2030, apontam para um aumento de 3°C na temperatura do planeta até o final do século.
“O Acordo de Paris (COP-21) foi assinado em Nova Iorque (ONU) por 195 países, em 22 de abril de 2016. O Brasil ratificou o seu compromisso no dia 12de setembro de 2016. O Acordo passou a valer a partir de 04 de novembro de 2016. Com a revisão das metas e criação de plano de ação, onde cada país deverá demonstrar sua estratégia de longo prazo, evidenciando o alinhamento de suas economias ao Acordo. O acordo é mandatório a partir de 2020 e a estimativa de investimentos mundiais é 1,3 trilhões de dólares anuais”, detalhou.
Degmar lembra que os compromissos do Brasil, no Acordo de Paris, são reduzir em 37% as emissões equivalentes de CO2 até 2025 (ano base – 2005); reduzir em 43% as emissões equivalentes de CO2 até 2030 (ano base – 2005); zerar o desmatamento na Amazônia Legal e restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030. Ele explica como o cimento está inserido nesse contexto e afirma que o Concreto é o segundo produto mais consumido no mundo – Consumo atual em torno de 30 bilhões de t/ano. Não existe produto substituto para o cimento, considerando sua versatilidade, resistência, durabilidade, volume e baixo custo. Toda atividade humana demanda cimento.
Estudos do ciclo de vida do “produto cimento”, indicam no mínimo, mais 200 anos. Talvez seja o produto industrializado que tenha a vida mais longa. Na natureza, talvez uma das rochas mais abundantes seja o calcário e 90% da fabricação de cimento é calcário. “Por isso, não existe algo que possa substituir o cimento, neste volume, nos próximos 200 anos. O problema é que o cimento é um agente do aquecimento global, devido a sua emissão de CO2. Vamos ver de que forma a gente pode mitigar essa questão”, complementou.
O Panorama mundial do consumo de cimento é de 4 bilhões de toneladas. A China é o país que mais consome cimento (58,6 %), enquanto o Brasil consome 1,8%, extremamente baixo. Em suma, 80% de todo cimento produzido no mundo é consumido pelo continente asiático. Como está ligado a todas as atividades humanas, o consumo de cimento é usado para demonstrar o grau de desenvolvimento de um país. Isso porque o cimento está atrelado ao modo de vida, ao conforto da sociedade. Os países desenvolvidos mostram uma renda per capita alta e um consumo alto de cimento por habitante. O cimento mostra como um país está posicionado em relação ao resto do mundo em termos de desenvolvimento.
Ao analisar o cimento em relação aos seus concorrentes, Degmar Peixoto explica o que significa o concreto, do ponto de vista ambiental e como é que ele se comporta com relação a outros materiais de construção. Os principais materiais de construção geram significativos impactos ambientais, porém, o concreto é ainda um dos mais ecoeficientes, em comparação com o vidro, plástico e metais. Tomando média mundial do consumo e emissão de CO2 por tonelada de concreto. Em termos de emissão KgCO2 por tonelada, o concreto emite 147 KgCO2/t, o vidro tem uma pegada ecológica muito maior, ou seja, 2.100 KgCO2/t. Já o plástico 6.000 KgCO2/t e os metais (aço, alumínio, bronze, etc.) a pegada ecológica vai para 3.000 KgCO2/t.
“Então, os produtos alternativos que surgem são muito bem-vindos, mas o volume impossibilita você pensar numa substituição e é por isso que se fala que a vida do uso do cimento é de 200 anos ainda, porque não existe a perspectiva de nascer um produto que tenha a capacidade de substituir ele nessas condições que a gente vive”, prevê.
Com relação ao peso do Cimento no mundo e o que só o produto representa na questão das emissões, Degmar deixa claro que, hoje, o cimento representa 5% das emissões globais de CO2. Entretanto, se nada for feito no mundo cimenteiro, em 2030 representará 30% e, em 2050, representará 50%. No Brasil representa aproximadamente 3% das emissões, porque o país tem uma indústria cimenteira mais moderna. “A gente tem uma legislação que permite um pouco mais de adições no cimento e isso favorece ter um produto com uma pegada ecológica menor”, observou.
Em 1990, sobretudo a partir da Rio-92, todos os sindicatos de fabricantes do mundo inteiro se reuniram criaram um organismo de estudo e acompanhamento das emissões em todas as cimenteiras do mundo, a iniciativa para a Sustentabilidade do Cimento (CSI), que é um esforço global das 22 maiores produtoras de cimento, com operações em mais de 100 países, que acreditam que há um forte argumento nos negócios na busca pelo desenvolvimento sustentável.
Coletivamente estas Companhias somam aproximadamente 30% da produção mundial de cimento e variam em tamanho desde grandes multinacionais a pequenos produtores locais. A partir daí, foi proposta uma série de medidas, como melhores práticas, para que houvesse uma redução na emissão por tonelada de cimento. E isso foi o que aconteceu e todos os países produtores, a partir de 1990 até 2013, segundo dados oficiais, tiveram uma queda vertiginosa do ponto de vista das emissões.
Degmar mostrou onde acontece as emissões ao se produzir o cimento. O momento em que se emite o CO2 é quando se faz a queima do material. Para se fabricar cimento, você mistura calcário e algumas argilas, moi esse material extremamente fino e queima isso no forno. Em suma, a emissão acontece na queima da farinha, na qual 50% é a calcinação, 40% combustíveis, 5% no transporte da matéria prima e entrega do cimento e 5% no consumo elétrico.
“Quando falamos especificamente em mudanças climáticas e gases de efeito estufa, existem três principais indicadores que respondem pela maior parte da redução das emissões do setor com a substituição do clínquer, a eficiência energética e os combustíveis alternativos. A substituição de clínquer é possível por conta do aprimoramento das normas, permitindo maiores substituições, e pelo desenvolvimento de novas tecnologias de fabricação e melhoria da morfologia do clínquer”, comentou.
Outra providência importante é a utilização de combustíveis alternativos, como o coprocessamento de resíduos industriais, de resíduos urbanos, e o uso de matérias primas alternativas. Através do Coprocessamento, a indústria cimenteira representará um papel fundamental no equilíbrio das emissões de CO².
Degmar Peixoto revela que Elizabeth Cimentos desenvolve, em parceria com a Universidade Federal da Paraíba, já no 2º ano, o Programa de Pesquisa e desenvolvimento. “É importante buscar conhecimento científico para fortalecer o nosso quadro funcional, como forma de alavancar a qualidade dos nossos processos e produtos e aumentar a nossa competitividade”, destaca.
Além disso a unidade industrial desenvolve diversas ações socioambientais, como baixo consumo de água, com recirculação de águas de refrigeração; recuperação de áreas anteriormente degradadas; estudo, mapeamento e proteção dos jacarés do Papo Amarelo; criação a manutenção de viveiro de mudas para recuperação de áreas; conscientização dos colaboradores quanto ao respeito ao meio ambiente e a busca da sustentabilidade; programa de visitas aberto a Universidades e Escolas Técnicas, além da Gestão integrada de resíduos – uso de cacos cerâmicos na produção.
“A empresa está aberta à sociedade e mostra o que está fazendo em relação à preservação do meio ambiente. E muitas vezes a gente colhe opiniões que nos ajudam a melhorar e a buscar de forma mais eficaz o nosso objetivo. Sem sustentabilidade, não haverá futuro”, finalizou o gerente industrial da Elizabeth Cimentos.
Fonte:
Revista Espaço Ecológico