Em 2002, Long rastreou todos os icebergs que conseguiu identificar de 1978 até os dias atuais. O resultado foi um aumento exponencial do número deles, aparentemente um indício das mudanças climáticas. Mas ao rastrear os icebergs até seus pontos de origem, ele descobriu que o aumento observado pode ter sido parte de um ciclo natural de crescimento e diminuição das plataformas de gelo. Em razão disso, embora os dados não evidenciassem que a culpa seria do aquecimento na região, “não descartaram que o aquecimento estaria contribuindo”, esclarece ele.
Quando o A68 se desprendeu da Larsen C em 2017, o British Antarctic Survey chegou a conclusões parecidas, afirmando que as mudanças climáticas podem ter contribuído, mas o ciclo de vida natural da plataforma de gelo também teve um papel importante.
O colapso da Larsen B em 2002, no entanto, demonstrou como uma atmosfera em processo de aquecimento pode contribuir para um final abrupto desse ciclo. Poças de água proveniente do gelo derretido se formaram na superfície da Larsen B, e a água que penetrou no gelo ajudou a despedaçar a plataforma, criando uma esquadra de icebergs.
Estudos mais recentes realizados por Long juntamente com cientistas do Centro Nacional de Dados sobre Neve e Gelo dos Estados Unidos sugerem que as plataformas de gelo remanescentes da Península Antártida podem estar altamente vulneráveis a esse mecanismo de “hidrofratura”. Com base nessa informação, Long declara que “podemos esperar mais icebergs com a continuação do aquecimento”.
Quantos chegarão tão longe como o que se dirige à Geórgia do Sul, é uma outra questão. Mesmo que os icebergs se tornem mais comuns na região, os do tamanho de um país como o A68 podem continuar sendo raros. Desde a década de 1970, Readinger conta que o número desses gigantes no corredor de icebergs não aumentou nem diminuiu de modo mensurável.
E icebergs menores costumam se dividir antes de chegarem à região da Geórgia do Sul.
“Eles precisam ser muito grandes para chegar [à Geórgia do Sul]”, esclarece Long. “É difícil saber se haverá um aumento.”
Uma ameaça à vida selvagem
Por ora, o A68 é uma grande ameaça à vida selvagem e à biodiversidade marinha da região.
Grandes icebergs com quilhas profundas “escavam o fundo do mar”, conta Tarling. “Algo muito importante na Geórgia do Sul é a incrível diversidade do seu fundo marítimo. É uma diversidade equivalente à das Ilhas Galápagos.”
No fundo do mar que rodeia a Geórgia do Sul, cientistas descobriram comunidades abundantes de ofiuroides, ouriços-do-mar, minhocas e esponjas. Ele também abriga peixes e krill antártico abundantes, uma parte essencial da cadeia alimentar que serve de alimento para focas, pinguins e diversas espécies de baleias.
Os carismáticos pinguins e focas da região também sofrerão se o iceberg ficar parado, pois ele poderia estabelecer uma barreira entre o solo e a área de alimentação desses animais na extremidade da plataforma costeira.