Algazarra
Os urubus são protegidos nos Estados Unidos pela Lei do Tratado de Aves Migratórias, que proíbe importuná-los ou matá-los até mesmo em propriedade privada. Os infratores estão sujeitos a multas de até US$ 15 mil e pena de até seis meses de prisão.
O USDA emite licenças especiais para importunar legalmente as aves em caso de incômodo, o que inclui até mesmo atirar em alguns indivíduos da espécie para utilizar seus corpos como efígies.
Efígies são práticas populares entre os gestores de animais silvestres do USDA desde 1999, quando pesquisadores desenvolveram projetos-piloto com carcaças liofilizadas de urubus-de-cabeça-vermelha como agente de dispersão em Ohio. Em um estudo de campo, houve uma redução superior a 90% nas populações de urubus que ficavam sobre torres de comunicação alguns dias após a colocação de uma efígie, e essas populações permaneceram baixas por meses após remoção da efígie.
Mas efígies não são uma solução milagrosa, sobretudo quando se trata de urubus-de-cabeça-preta, afirma Bryan Kluever, biólogo do USDA que estuda as interações entre humanos e animais silvestres. Em 2012, um centro de educação infantil da Flórida pendurou três carcaças de urubus em árvores na tentativa de espantar um bando indesejado de centenas de urubus-de-cabeça-preta. As aves não saíram do local, o que não foi exatamente chocante aos pesquisadores que haviam observado o grupo devorar as carcaças de outros urubus mortos na propriedade.
“Para esses animais, algo suspenso pode se tornar subitamente uma espécie de atrativo ou brinquedo de enriquecimento”, afirma Bracken Brown, biólogo de animais silvestres do Hawk Mountain Sanctuary, santuário de aves silvestres localizado na Pensilvânia que monitora urubus nos Estados Unidos há mais de uma década. Os urubus são extremamente curiosos, conta ele, então é uma linha tênue entre o que as aves podem achar assustador e o que podem querer investigar.
Alguns gestores de animais silvestres recorrem a “balões com olhos maus”, balões plásticos inflados com hélio e pintados com olhos gigantescos, semelhantes a um predador enorme. Mas outros gestores apenas riem e enviam fotos de urubus mordiscando os balões.
Sprinklers ativados por movimento têm se revelado eficazes em telhados e ancoradouros de barcos. Mas água demais pode criar uma poça considerada perfeita pelos urubus para chapinhar e bebericar.
Lasers, outro método padrão do USDA, realmente funcionam, desde que alguém esteja disposto a permanecer um bom tempo no local passando a luz perto das patas de cada urubu, um por um. Quando os urubus formam grandes bandos, pode ser um processo trabalhoso.
Métodos de pirotecnia — fogos de artifício do tipo “vulcão” e “rojões” disparados de pistolas especializadas — também podem funcionar, mas precisam ser utilizados com frequência. São os métodos favoritos de aeroportos e a medida padrão do aeroporto Hartsfield-Jackson em Atlanta, o aeroporto mais movimentado do mundo.
Em dezembro, uma escola de ensino médio da Carolina do Norte montou um canhão de propano no telhado para espantar dezenas de urubus. Canhões de propano explodem a 130 decibéis, um som tão alto quanto ficar ao lado da sirene de uma ambulância. Após o uso repetido, os urubus foram embora, “mas parece que não foram para muito longe”, afirma Kristy Woods, professora de matemática da escola. “Parece que resolveram ficar em uma estação de metrô próxima.”
Urubus são criaturas de hábitos, enfatiza Brown, por isso, é importante interromper sua rotina antes que ela se solidifique. É necessário eliminar quaisquer atrativos, como lixeiras sem tampas ou ração exposta para animais de estimação, e fazer barulhos altos quando as aves empoleirarem.
Neste mês, cientistas do governo também planejam começar a testar bonecos birutas, aqueles bonecos que balançam inflados por um ventilador, geralmente usados em concessionárias de automóveis.
Atualmente, o USDA recomenda uma campanha multissensorial de choque e pavor para dispersar os urubus, ao menos quando as primeiras tentativas não funcionam. Essa iniciativa multifacetada é empregada no Aeroporto Regional de Gainesville, que utiliza canhões de ar, dispositivos antiempoleiramento e uma efígie.
“Nosso maior sucesso continua sendo a efígie”, afirma Shaun Blevins, gerente de operações do aeroporto experiente no ofício de dissuadir urubus. É um único urubu de taxidermia pendurado em uma antena no meio do campo de aviação, substituído anualmente a um custo de cerca de US$ 300, conta ele.
É uma pechincha, já que urubus-de-cabeça-preta foram responsáveis por mais de US$ 120 milhões em danos a aeronaves nos Estados Unidos entre 2010 e 2019, segundo a Administração Federal de Aviação do país.
O futuro da dispersão de urubus — e dos urubus
Conservacionistas acreditam que as iniciativas para mudar a imagem dos urubus de animais ameaçadores a animais essenciais tornem as pessoas mais dispostas a conviver com eles. Embora as populações de urubus-de-cabeça-preta e urubus-de-cabeça-vermelha estejam aumentando na América do Norte, seus parentes carniceiros estão ameaçados de extinção em grande parte do mundo.
Eliminar os urubus de um ecossistema pode provocar desastres. Na Índia, por exemplo, mais de 95% da população de urubus foi exterminada por envenenamento acidental causado por um medicamento veterinário aplicado em carcaças de vacas. Cães e ratos selvagens preencheram o lugar deixado vago pelos carniceiros, provocando um surto de casos de raiva humana.
As iniciativas de mudança da imagem, ao menos em Opelika, parecem estar surtindo efeito. Muitos atribuem ao Southeastern Raptor Centre, centro de aves de rapina nas proximidades de Auburn, o novo olhar sobre as aves, antes consideradas malignas pelos habitantes da região.
“Depois de conhecer nossas aves de rapina embaixadoras, as percepções sobre os urubus mudam rapidamente”, afirma Andrew Hopkins, educador do centro que cuida de aves como Melvin, urubu-de-cabeça-preta criado por humanos desde filhote. Melvin adora resolver quebra-cabeças para receber guloseimas e, apesar de sua envergadura de cerca de um metro e meio, pesa apenas 1,81 quilos.
Fuller, prefeito de Opelika, afirma que planeja se reunir nesta semana com os gestores locais de animais silvestres do USDA para tratar de táticas não letais — e menos terríveis. “A grande maioria das pessoas não quer que atiremos em nenhum urubu.”