Estar em fase de crescimento é a desculpa dada por muitas crianças para justificar o “prato de peão” colocado durante o almoço. Mas os pais devem ficar atentos à maneira como os filhos se relacionam com a comida. O alerta deve ser acionado se o seu pequeno é daqueles que comem demais, várias vezes, em um curto espaço de tempo. Ele pode estar sofrendo de compulsão alimentar.
— Esse é um tipo de transtorno caracterizado pela vontade de comer até a barriga doer em um curto espaço de tempo. Mas essa alimentação é cercada de angústia e culpa. Muitas vezes eles comem escondido. É comum encontrar, por exemplo, pacotes de biscoito debaixo da cama — explica Laura França, psicóloga do grupo Prontobaby.
Para receber o diagnóstico de compulsão alimentar, a criança deve ter apresentado vários episódios do comportamento de comer exageradamente por pelo menos seis meses. Normalmente, o desejo de se empanturrar de comida é gerado por algum vazio emocional. A comida serviria justamente para preencher este espaço que, na verdade, deveria ser ocupado por um sentimento positivo.
— Às vezes, falta afeto dos pais, que não conseguem dedicar mais tempo aos filhos. Acontece também de os pequenos sentirem dificuldade de reconhecer este carinho dos pais. Como a comida gera uma sensação de prazer, às crianças encontram nos alimentos o afeto que necessitam — diz a psicóloga Aline Saramago.
Uma pessoa compulsiva não escolhe se vai comer alimentos saudáveis ou não: ela coloca para dentro o que estiver pela sua frente. Fato é que produtos como salgadinhos embalados e fast-foods são opções mais “acessíveis” para o momento de compulsão, por não necessitarem de tempo de preparo. Além disso, estes alimentos possuem alto nível de carboidratos e gorduras, que dão a sensação de prazer e saciedade mais rapidamente que uma fruta.
A compulsão, apesar de afetar a relação alimentar, deve inicialmente ser tratada com um profissional de psicologia. O primeiro passo é compreender o que causa o vazio esta criança e passar a preenchê-lo da maneira correta. O não tratamento pode gerar outros transtornos, como a bulimia e a anorexia.
O acompanhamento nutricional vem logo em seguida: alimentar-se compulsivamente pode gerar sobrepeso. A reeducação alimentar previne o pequeno de doenças como diabetes na vida adulta.
— O papel do nutricionista é fazer uma avaliação cuidadosa sobre o estado nutricional e as práticas alimentares que fazem parte do dia a dia da criança. Restrições de alimentos na infância são perigosas porque a proibição pode gerar grande ansiedade e desencadear novos episódios de compulsão — afirma Luciana Novaes, nutricionista mestre em saúde pública.
O que fazer para ajudar
Iniciar tratamento multidisciplinar
É preciso tratar o motivo que causa o vazio que há nesta criança. Consultas com psicólogo, nutricionista e, quando houver necessidade, psiquiatra vão ajudar a criança a estabelecer um relacionamento saudável com a comida
Estabelecer rotina
Saber que haverá horário certos para comer ajudará a criança a ficar menos ansiosas quando à próxima refeição. Estabeleça, junto com o nutricionista, como deve ser o prato da criança e qual é a quantidade de comida ideal para a necessidade dela
Evite restrições
Pelo fato de a criança estar em fase de crescimento, deve-se evitar grandes restrições. O ideal é estimular o consumo em pequenos intervalos com quantidades menores
Melhorar qualidade dos alimentos
Para passar a fazer escolhas melhores, a criança precisa receber esta opção. Por isso, é preciso que dentro de casa haja oferta de alimentos saudáveis, principalmente de frutas: elas podem ser usadas como lanche quando a criança sentir vontade
Mudar os hábitos da família
É muito difícil mudar os hábitos quanto todo o restante da família continua comendo alimentos não saudáveis. Para o bem da saúde física e mental do pequeno, é preciso que todos entrem na reeducação alimentar junto com o filho
Nada de julgamentos
A criança precisa de apoio durante este período de tratamento. Evite chamá-la de doente ou ficar dizer que ela vai explodir de tanto comer. Ofereça seu colo e reafirme que você sempre estará ao lado dela. O sentimento de culpa pode fazer com que ela tenha uma nova crise compulsiva
Fonte:
Extra - Evelin Azevedo