Em seguida, no laboratório, eles utilizam peneiras de malha fina para filtrar organismos maiores como moluscos e pequenos caranguejos, separando-os da minúscula meiofauna. Sob um microscópio, começam a classificar e identificar o que encontraram.
“A primeira vez que analisamos uma amostra é sempre muito emocionante, porque não sabemos o que podemos encontrar”, afirma Ingels.
Ingels não poderá estudar as tartarugas-marinhas-comuns que estão retornando para desovar em junho devido às restrições impostas pela pandemia de coronavírus, mas está ansioso para ver as novas criaturas que as tartarugas trarão no próximo ano –– principalmente as que já foram estudadas e marcadas.
Jangada dos microrganismos
O estudo levanta questões sobre como esses pequenos animais sobem nas tartarugas — e a importância das tartarugas na movimentação deles.
É provável que as tartarugas apanhem muitos dos caronas ao se alimentarem no fundo do mar, local com abundância de meiofauna, desprendendo criaturas microscópicas que podem encontrar um novo lar no casco de uma tartaruga, explica Ingels.
Theodora Pinou, bióloga de tartarugas-marinhas e professora da Universidade Estadual de Western Connecticut, que não participou da pesquisa, diz que as tartarugas provavelmente apanham tantos caronas apenas por desempenhar suas atividades ou devido ao próprio ambiente, não porque seu casco tenha algo especial ou seja hospitaleiro.
“Não acredito que a tartaruga seja o ímã”, diz Pinou. Pinou constatou que as tartarugas-marinhas-comuns que vivem no Oceano Atlântico carregam uma maior quantidade de criaturas minúsculas do que seus pares no Pacífico. Ela suspeita que isso resulte de diferenças nas condições ambientais e nos níveis de meiofauna.
Independentemente de como os pequenos animais encontram as tartarugas, os répteis atuam como jangadas, dando longas caronas conforme migram. Isso pode ajudar a explicar como tantos animais minúsculos ficaram bem distribuídos, algo que ainda é um mistério, pois muitas dessas criaturas não conseguem nadar para longe ou sobreviver no mar aberto por longas distâncias.
“Um pedaço de craca oceânica flutuante ou gelo marinho pode transferir certos organismos, mas trata-se de uma escala e frequência diferentes do que quando se fala de tartarugas-marinhas”, explica Ingels.
Rastreadores biológicos
As longas viagens das tartarugas-marinhas fazem com que seja difícil e caro rastreá-las. Ingels espera que a análise desses pequenos caronas acoplados às tartarugas e da dieta deles possa fornecer pistas sobre onde as tartarugas os pegaram ou para onde viajaram, e Ingels espera realizar esses testes no futuro.
Estudos desse tipo ainda não foram realizados na meiofauna. Mas os pesquisadores examinaram a composição química de cracas sobre as tartarugas-marinhas-comuns e tartarugas-verdes. Este trabalho mostra que os isótopos, ou variantes químicas, dentro das cracas fornecem um registro das condições dos locais por onde passaram, como temperatura e salinidade, que podem ser utilizadas para inferir rotas de migração.
“Quanto mais de perto observamos esses animais, mais há para descobrir”, diz Robinson.